Inspirados no Rio, argentinos criam a primeira escola de samba de Buenos Aires

 

É inverno em Buenos Aires, mas dentro da quadra da G.R.E.S Estação Primeira de Lanús nem se sente.

 



É a primeira escola de samba argentina criada nos moldes das escolas brasileiras.

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Buenos Aires, 20 de agosto de 2017

​Por Gisele Teixeira, especial para o Clarín em Português

Tem samba, cerveja gelada e, quando a bateria começa, outros ingredientes bem brasileiros: suor, emoção, tradição e nó na garganta quando explode a bateria. O Chau Che Clú, onde eles se apresentam todas as sextas-feiras, funciona como um portal para uma noite de Carnaval no Rio de Janeiro. Um Aleph carioca no bairro de Barracas!

A escola de samba foi batizada em homenagem à Mangueira.

O verde e branco são as cores desta que é a primeira escola de samba argentina criada nos moldes das escolas brasileiras e reproduzindo seu sistema de “alas”, com bateria (30 integrantes), passistas (18 no total, entre homens e mulheres), mestre-sala, porta-bandeira e intérprete dos sambas, o conhecido “puxador” que, junto com o cavaquinho e o violão de sete cordas, são o coração da Estação Primeira.

Foi batizada em homenagem à Mangueira, por suas similaridades, e ao lugar onde eles ensaiavam e da qual são oriundos a maioria dos integrantes, a cidade de Lanús, a 20 minutos de Buenos Aires. O logotipo da escola é um trem, que supostamente chega a Lanús vindo da Praça da Apoteose.

A Estação surgiu pelas mãos de três portenhos moradores da “baixada lanunsense”, apaixonados pela música do país vizinho, Leandro «Peta» Barsotti (diretor, fundador e mestre de bateria), Nicolas Doallo (diretor e fundador, ritmistas na bateria) e Marcelo Casela (fundador e ritmista).

A história da escola

Em 2010 compraram mais instrumentos e abriram oficinas de ritmo para formar músicos.

Doallo conta que ambos começaram tocando em diferentes “batucadas”, mas que a Estação foi criada oficialmente no dia 4 de abril de 2008 quando eles decidiram levar adiante um projeto organizado de criar uma escola de samba na Argentina, e decidiram convidar outros amigos. Começaram a tocar todas as sextas-feiras na estação de Lanús, com sol, chuva ou frio, para divulgar o trabalho que, por esta época, era somente de bateria. “Na rua passam muitas coisas, as pessoas param para escutar e comentam e, com este retorno, vimos que estávamos no caminho certo”, diz.

Em 2010, compraram mais instrumentos e abriram oficinas de ritmo para formar músicos e possibilitar que mais gente embarcasse neste trem. A ideia não era somente que outros músicos aprendessem a tocar instrumentos bem brasileiros, como surdos, repiques, caixas, tamborins, chocalhos e agogôs, mas que também entendem as letras, a tradição e cultura que há por trás de uma escola de samba. “Em 2012 fui para o Rio para estudar com Gabriel Policarpo, em Niterói, referência na área rítmica e por muito tempo primeiro repique da Viradouro”, conta Barsotti.

Há seis anos eles participam do BA Celebra Brasil, um projeto que reúne a comunidade brasileira de Buenos Aires na Avenida de Maio, em uma data perto do dia 7 de Setembro, Dia da Independência, e que funcionou como uma vitrine para a Escola. Depois, em 2013, encontraram um espaço fechado para ensaiar, o Chau Che Clú, que por esta época era apenas um galpão. De lá para cá, as coisas foram acontecendo, tudo “à pulmão”, como se diz na Argentina, num grande trabalho de equipe feito por todos os integrantes da escola, algo parecido com o que acontece nas “comunidades” do Rio, com um tal de junta dinheiro para comprar sapato branco, fantasias para as passistas, instrumentos.

Uniram-se ao grupo um mestre sala argentino e uma porta bandeira brasileira, além do intérprete (puxador) Matias Giordani. “Por esta época também foi formada a equipe de passistas, que ensaia toda a semana e se inspira, em cada detalhe, na meninas do Rio”, conta a argentina Natalia Malveira.

Samba enredo faz homenagem a Carybé

O apito da bateria soa pelas 22h, sinal para a entrada da bandeira.

Em seguida a Estação ganhou seu primeiro “samba de exaltação”, com estribilho que cola na gente: “Vai, vai, estação primeira, é minha bateria, que samba na avenida”. Mais tarde, a “ala de compositores”, encabeçada por Matias, criou o primeiro samba-enredo: «Carybé de Lanús e da Bahia! Traços de um ilustre em verde e branco…» A letra faz homenagem ao artista plástico Hector Julio Páride Bernabó «Carybé», o argentino mais baiano que se que se tem notícia. Nasceu em Lanús (não há coincidênias!) em 1911, mas adotou no Brasil desde 1949. Carybé fez ilustrações para livros de escritores famosos, como os de Jorge Amado, Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez, além do livro Macunaíma, de Mario de Andrade. Foi Obá de Xangô, posto de honra do Candomblé. Morreu em 1997. Hoje o povo quer te agradecer/Artista genial, ser cheio de luz/Te homenageando na avenida/A Estaçao Primeira de Lanús.

Chau che clú

O ano de 2017 é um marco para a Escola. Com o Chau Che Clú reformado e habilitado, eles ganharam um espaço fixo para mostrar seu trabalho, em formato de show, todas as sextas-feiras e com entrada a 50 pesos. A dica é chegar cedo e aproveitar parrilla ao ar livre. O apito da bateria soa pelas 22h, sinal para a entrada da bandeira, beijada pelos integrantes da escola, como deve ser. É a benção! Depois, entram as passsitas e o povo é convidado a dançar – quem quer, entra na roda. Após o espetáculo, a festa segue com Roda de Samba Bom Ambiente, que toca do jeitinho brasileiro, ao redor de uma mesa, com espaço aberto para quem quiser sambar.

À medida que a Escola cresce, aumentam também os desafios e os projetos. Como manter a tradição agregando uma identidade própria? Como diz o samba, o futuro é que dirá. Enquanto isso, a equipe está cheia de projetos, como incluir aulas de dança antes do show e aumentar a “comunidade”.

Não importa o sotaque. Estación ou Estação. O trem passa toda a sexta, remédio para quem está com saudades de casa, um pedacinho de Brasil para os argentinos que querem descobrir o país além das praias.

Serviço:

Ensaio às 21hrs todas as sextas-feiras.

Endereço: Av. Vélez Sarsfield 222, bairro de Barracas, Buenos Aires.

​No Facebook: https://www.facebook.com/bateriae1/?ref=br_rs

Fuente: clarin.com

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